Ao longo da vida, nas mais variadas vertentes profissionais que abracei, tenho tido a oportunidade de contactar com milhares de empresários e gestores
Artur Bacelar
Jornalista, director de informação
Ao longo da vida, nas mais variadas vertentes profissionais que abracei, tenho tido a oportunidade de contactar com milhares de empresários e gestores. Desse modo sem me autodenominar “expert” na área (já vi arvorarem-se em tal por bastante menos), com toda a humildade, acho que posso formar uma boa opinião.
Nos dias de hoje fundamental, a Comunicação continua a ser um parente pobre das empresas, na sua grande parte “encostada” no isolamento comunicativo chamado Departamento de Marketing.
Hoje, para comunicar, usa-se contratar uma empresa externa “de assessoria”, que por mais profissional que seja dá um ar “metálico”, de “chiclete” e impessoal à comunicação, afastando cada vez mais a comunicação do meio de divulgação, normalmente o jornalista.
É usual ainda entregar-se este departamento, um dos mais importantes na empresa, àquele filho, recém-licenciado, de um amigo que nos pede um favor de o empregar. Ora se o “puto” for bom, rapidamente vai ganhar asas e encontrará outro pouso, se por acaso for mau, rapidamente fará parte da mobília, um belo adorno, mas que nada faz.
O “mau” Director de Marketing arroga-se a um nível superior aos colegas, faz questão de vincar o seu poder aos níveis inferiores, esquecendo que a sua função deveria incluir ouvidos, proximidade e simpatia. Se o não percebeu, está na profissão errada e pior está a colocar a empresa na estagnação e se o gestor for bom, certamente na linha para dispensa logo que possível.
Muitas vezes os jornalistas, por sua opção editorial, fazem notícias sobre empresas e produtos usando da sua perceção para transmitir factos.
Lembro-me ainda há dias de fazer notícia, separadamente, a duas marcas internacionais distintas, mas com produtos equivalentes e do mesmo segmento. A diferença é que uma tem o “marketing” em Portugal, aqui na Maia e a outra em Madrid a 700 km de distância.
Se a marca “nacional” optou por ser “seca” e “insipida” na comunicação, connosco a pedir constantemente dados, sem preocupação com a foto que iria ser usada e a demorar uma eternidade nas respostas, eu diria mesmo a fazer quase um favor ao jornalista, a outra, internacional, elevava o produto a outro nível. A comunicação fazia-se em minutos, sendo o canal preferido a voz. Os títulos académicos ficavam na gaveta, a proximidade era um imperativo, sendo normal a conversa extravasar o nível profissional. O material informativo era abundante e a preocupação com as imagens colocavam até o seu portefólio e meios técnicos à disposição. Como da água para o vinho.
Fácil será perceber que a “nacional” não será lembrada com facilidade e que a “internacional”, à primeira oportunidade, em noticias gerais de mercado, será escolhida para notícia.
Nada tem a haver com isenção jornalística, mas sim com profissionalismo. Se por um lado o jornalista irá confiar mais na fonte que conhece e que lhe dá mais pormenores garantindo a fiabilidade, a marca vai ganhar publicidade grátis e, ao preço que se paga por essa exposição, num trabalho, o Comunicador pagará o seu salário e fará poupar milhares de euros à sua empresa.
Edição 2022
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