Do ponto de vista jurídico, uma marca é um sinal utilizado para identificar e distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas
Carlos Brito
Professor de Marketing, Pró-Reitor da Universidade Portucalense
Do ponto de vista jurídico, uma marca é um sinal utilizado para identificar e distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas. No entanto, numa perspetiva de marketing o entendimento que se tem daquilo que é uma marca é bem mais lato. É nesse sentido amplo que se afirma que Álvaro Siza Vieira, Paula Amorim ou Cristiano Ronaldo podem ser encarados como marcas – isto para nos restringirmos a personalidades portuguesas. Da mesma maneira que cada um de nós – sejamos Maria, Isabel, Manuel ou Joaquim – tem também a sua marca enquanto pessoa e profissional.
O que podemos então fazer para valorizar a nossa marca pessoal? Sabe-se que o valor de qualquer marca decorre de três ordens de fatores: notoriedade, imagem e envolvimento. Contudo, o primeiro passo é conhecer-se a si mesmo e ao mercado.
Para gerir com sucesso a sua marca pessoal, a primeira coisa a fazer é conhecer os seus pontos fortes – em termos de conhecimentos, competências, experiência, rede de contactos, reputação – bem como as suas debilidades. Paralelamente há que conhecer o mercado no qual se pretende inserir, identificando oportunidades e ameaças.
Não se esqueça de que o mercado de emprego é apenas um dos que deve considerar. Além deste, há que estar atento a oportunidades no domínio das profissões liberais bem como do empreendedorismo. No fundo, um profissional é tanto aquele que trabalha por conta de outrem como o que cria o seu próprio emprego (i.e., um profissional por conta própria) ou ainda aquele que cria emprego para os outros (i.e., um empreendedor que se transforma em empresário).
Eleja os seus públicos-alvo – como potenciais empregadores, possíveis clientes ou eventuais parceiros de negócio – e torne-se conhecido. Ganhe notoriedade nesses mercados, marcando presença, fazendo networking e utilizando as ferramentas de comunicação de marketing, em especial as redes sociais. Por outras palavras, defina uma estratégia de comunicação adequada aos seus targets e seja um relações públicas de si mesmo.
Não basta ser conhecido – é preciso que o seja por boas razões. Para isso, defina o seu próprio posicionamento de modo a refletir uma proposta de valor diferenciada e atrativa. A questão é como é que pretende ser conhecido. Pelas suas competências técnicas? Por ser um bom comunicador? Pela capacidade de liderança? Pelas aptidões para gerir projetos? O importante é que aposte em algo que, correspondendo efetivamente àquilo que tem de melhor, o distinga dos outros. Caso contrário vai ser mais um – e ser mais um é, em muitos casos, estar a mais.
Depois, há que criar laços de confiança fortes com aqueles que elegeu como públicos-alvo da sua marca pessoal. Esses laços podem decorrer do poder que lhe foi conferido ou das competências que possui. O poder advém da posição institucional / hierárquica que ocupa ou dos recursos que controla. A competência – isto é, o saber fazer – é, todavia, a grande forma de envolver os outros consigo mesmo. De facto, o poder não está em mandar, mas em ser obedecido. E não é só poder – é também a capacidade para comprometer os outros com os seus projetos. Nesse sentido, competências relacionais são um fator crítico de sucesso.
Por último, há que trabalhar a atitude – ou seja, o saber ser e estar na vida e na profissão. A ética nos negócios e nas relações interprofissionais, a resiliência, a inteligência emocional, a capacidade de resolução de problemas complexos, a visão e a criatividade são traços que não só o podem distinguir dos outros, mas também que tendem a ser cada vez mais valorizados pelo mercado de trabalho. As soft skills e, em especial, as designadas human skills são fatores distintivos num mundo cada vez mais digital onde qualquer um de nós pode perder o trabalho porque foi substituído por uma simples máquina.
Em conclusão, não posso garantir que a sua pessoa se torne numa marca valiosa só porque se conhece a si mesma e ao mercado onde se insere, ou ainda porque faz uma gestão eficaz da sua notoriedade, imagem e envolvimento com os outros, tanto na vertente funcional como emocional. Mas certamente que para lá caminha!
Edição 2019
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