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De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2010 e 2014 no município da Maia

Aurora Teixeira

Professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto

Exportações e I&D: duas faces da competitividade

De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2010 e 2014 no município da Maia todas as atividades económicas registaram uma diminuição do número de estabelecimentos, com exceção de ‘Outras atividades de serviços’, ‘Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição’, ‘Atividades administrativas e dos serviços de apoio’ e ‘Atividades de saúde humana e apoio social’. Estas atividades observaram um aumento global do número de estabelecimentos de, respetivamente, 10.7%, 8.5%, 8.2% e 0.6%.

Entre os setores que observaram maior destruição de estabelecimentos encontra-se a ‘Construção’ que no município da Maia, à semelhança do que se passou em Portugal continental, entre 2010 e 2014 perdeu mais de 1/3 dos estabelecimentos (cerca de 1900 estabelecimentos). Contudo, a destruição de estabelecimentos na indústria transformadora foi particularmente acentuada no município da Maia, com o número de estabelecimentos deste setor a diminuir, no período em análise, 10% contra a diminuição de 2.5% e 6% na região do Norte e em Portugal, respetivamente.

É um facto que a ‘sombra da morte’ empresarial está associada à pequena dimensão e à indústria transformadora. Não obstante, a exportação e a investigação e desenvolvimento (I&D) são atividades que proporcionam ‘raios de sol’ capazes de afastar tal sombra e permitem aumentar a competitividade.

Uma característica importante da economia do município da Maia é o seu considerável dinamismo exportador. Em 2014, de acordo com valores provisórios disponibilizados pelo INE, era o maior exportador de mercadorias da Área Metropolitana do Porto (AMP), vendendo ao estrangeiro mais de 1.3 mil milhões de euros (cerca de 14% do total exportado pela AMP e 3% das exportações de mercadorias de Portugal). Entre 2011 e 2014, não obstante o contexto de crise económica, registou uma das maiores taxas de variação das exportações de mercadorias, de, aproximadamente, +15%, em valores correntes, acima da média nacional (+12%) e muito além do registado pelos outros municípios mais exportadores da AMP: Vila Nova de Gaia (+9%), Santa Maria da Feira (+10%) ou Porto (-15%).

Está ainda localizada na Maia o segundo maior investidor em Investigação e Desenvolvimento (I&D) do país (de acordo com a lista provisória das Empresas/Grupos com mais despesa intramuros em atividades de I&D em 2015, publicada, em novembro de 2016, pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência): a Sonae, uma multinacional com negócios em áreas tão diversificadas como retalho, serviços financeiros, tecnologia, centros comerciais e telecomunicações.

Mas o investimento em I&D não é uma atividade exclusiva das e/ou essencial para as grandes empresas. A atividade de I&D constitui uma base importante (embora não seja a única atividade que contribui) para a inovação empresarial de todas as empresas, incluindo as pequenas e médias empresas, estando intimamente relacionada com o desempenho empresarial em termos de exportação.

A evidência recente utilizando mais de 340 mil empresas não financeiras com sede em Portugal, ao longo do período 2006-2012, confirma a complementaridade entre I&D e exportações.1 Ou seja, nas empresas não financeiras com sede em Portugal o investimento em atividades de I&D aumenta a probabilidade da empresa exportar e o envolvimento na exportação aumenta também a probabilidade de investimento em I&D. Adicionalmente, o investimento em atividades de I&D e o envolvimento na exportação têm um efeito positivo e significativo sobre o crescimento das vendas, que é amplificado quando ambas as atividades ocorrem simultaneamente.

Porque os exportadores e as empresas inovadoras tendem a ter maior crescimento da produtividade, o processo de exportação e inovação que reforça o crescimento dessas empresas apoia também o crescimento da produtividade do município/região/país. Existe, por conseguinte, racionalidade no interesse/apoio à exportação e I&D/inovação empresariais por parte das autoridades públicas locais/regionais/nacionais.

Este apoio público às atividades de I&D empresarial, sendo importante, nomeadamente ao nível das empresas de dimensão mais reduzida que operam nos designados sectores menos intensivos em tecnologia e conhecimento, não deve ser executado na (atual) perspetiva ‘quantitativa’, correndo-se o risco de estender a lógica de subsídio dependência que, infelizmente, perpassa a atribuição de apoios públicos em diversos domínios em Portugal, mas antes deverá centrar-se na ‘qualidade’, isto é, no tipo de inovação que induz.

 

Nota:

(1) Alexandre Neves; Aurora Teixeira; Sandra Silva (2016), “Exports-R&D investment complementarity and economic performance of firms located in Portugal”, Investigación Económica, Vol. 75, Nº 295, pp. 125-156 (in http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0185166716300042).

Edição 2017