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Quando me convidaram para escrever um artigo sobre este tema, senti-o como um desafio: deveria ser otimista ou pessimista face ao

João Armando Lobo de Sousa Couto

Professor Universitário da FEP

O contexto económico atual

Quando me convidaram para escrever um artigo sobre este tema, senti-o como um desafio: deveria ser otimista ou pessimista face ao desenvolvimento económico no futuro próximo? Analisar o passado (e os erros económicos) ou as perspetivas de futuro da economia portuguesa?

Preferi ir por outro caminho, deixando ao leitor a hipótese de ser ele mesmo, a tirar as suas conclusões.

Neste texto, faz-se uma retrospetiva de alguns factos marcantes da história do País que acabaram por determinar o seu per curso económico influenciando, também, as suas decisões estratégicas e de trocas comerciais.

Portugal, um dos países mais antigos da Europa (independente desde 1143), tem mantido uma certa estabilidade territorial conservando os seus 92 mil Km2 ao longo dos tempos. A nível demográfico verificou se um aumento (mais ou menos recente) de população. Só no Sec. XIX passou de 2,9 para 5,2 milhões (1) chegando aos 10,6 milhões de habitantes no Séc. XXI.

Contudo, num passado recente, a área geográfica passou para 2.195 Km2 (soma das áreas correspondentes às chamadas “coIónias”), o que perspectivava um novo tipo de desenvolvimento económico. O principal objetivo económico passava a focar-se na obtenção de uma maior quantidade de produtos, ate então, invulgares na Europa (incluindo, bens agrícolas e/ou extractivos) e em sentido inverso um canal baseado em produtos tradicionais portugueses de menor qualidade (2). Nesta fase, Portugal não conseguia garantir o mercado do tráfego naval internacional (uma vez que Inglaterra detinha a maior parte das empresas do ramo), assegurando ape nas o trafego entre o continente e as ilhas. Para o resto do mundo exportavam-se os produtos tradicionais (minério de volfrâmio, têxtil, cortiça e vinho).

Após 1974 este modelo de exportação/importação sofre um grande abalo empurrando o País para a procura de novos mercados, impedindo a alteração do seu modelo económico. Nesta fase, o país apresentava (I) produtos de baixa qualidade e baratos ou produtos com maior qualidade mas a preços pouco competitivos; (II) mercados independentes da política do país; (III) retomo populacional inerente à independência das “colónias” (traduzindo-se numa população a aumentar dos 8,7 para os 9,8 milhões de habitantes na década de 80).

Desde então, a conjuntura existente coloca Portugal numa situação frágil dado que o montante da divida pública se toma excessivo, levando o país a três pedidos de resgate (1978, 1983 e 2011).

Na atualidade, assistimos a uma forte tentativa de recuperação de mercado e de estímulo para o crescimento e criação de empresas nacionais. Em 2014, as 10 maiores empresas (3) a nível de volume de facturação estão nos sectores petrolífero (2), distribuição de energia e de gás (4), grande retalho (2) e prestação de serviços (2). Em todas elas existe algum factor exportador mas que, ainda assim, poderia ser bastante mais acentuado. Por seu turno, nalgumas, a própria matéria-prima não é nacional, au mentando a carga de importação.

O atual modelo económico português apresenta vectores que merecem alguma reflexão.

O primeiro vetor tem a ver com a predominância de micro, pequenas e medias empresas (PME) em Portugal. Segundo dados do INE de 2010 (4), das 350 mil PME existentes em 2008 (representando 99,7% das sociedades do sector não financeiro), 86% correspondiam a microempresas. Por seu turno, ainda em 2008, as PME asseguraram 72,5% do emprego nas sociedades do sector não financeiro e foram responsáveis por 57,9% do volume de negócios e por 59,8% do VAB gerado (4).

O segundo vetor assenta na capacidade de “criar futuro” nomeadamente a nível das reais capacidades das “startups” se fixarem no mercado. Contudo um trabalho recente (5) conclui que 40% das “startups” criadas a partir de 2009 desaparecem ao fim de um ano, o que acaba por se traduzir numa “não solução”.

O terceiro vetor prende-se com o envelhecimento da população, o que se reflete num problema de sustentabilidade social do sistema. Se na década de 70 existia um rácio de 100 jovens para cada 34 idosos, em 2014 o rácio passa para 100 jovens para cada 138 idosos. Esta situação, conjugada com o Índice Sintético de Fecundidade que passou de 3,0 em 1970 para 1,23 em 2014, e cujo valor mínimo deveria ser de 2,1, levanta problemas demográficos muito complicados.

Poderá fazer espécie ao leitor, não ter referido os problemas financeiros da banca nacional, muito em voga nos dias de hoje. Mas, na realidade, os créditos que a banca concede estão, em última análise, dependentes das entidades a quem são concedidos. Assim, e assumindo que as entidades económicas praticam atos corretos, quer em termos legais, quer em termos éticos, a falência de um banco depende, em grande parte, das empresas e dos setores de que são credores. 

No contexto económico atual uma grande mudança de paradigma seria uma efetiva comunicação entre os diferentes agentes económicos e financeiros. O papel das empresas é absolutamente primordial no equilíbrio da balança financeira portuguesa. Sem dúvida, o sucesso das “nossas” empresas influencia a estabilidade do país e, por sua vez, o próprio contexto económico atual.

Edição 2015