A Maia é um município que se tem vindo a notabilizar pela sua visão estratégica no futuro, pela sua capacidade de antecipar as necessidades e
António Brochado Correia
Partner da PwC – Pricewaterhouse Coopers
A Maia é um município que se tem vindo a notabilizar pela sua visão estratégica no futuro, pela sua capacidade de antecipar as necessidades e que tem realizado investimentos relevantes os quais permitem responder às exigências da população de toda a área metropolitana do Porto. A sua localização estratégica permite às empresas o acesso privilegiado, entre outras, ao Porto Leixões, ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e ainda a um mercado de mais quase 3 milhões de pessoas, o da Galiza. De acordo com dados recentes do INE, as empresas da Maia representaram, em 2014, cerca de 2% do VAB nacional, com especial destaque para as indústrias transformadoras (2,5% do VAB nacional), representando também cerca de 2% do total de pessoas ao serviço em Portugal. Estes são números muito relevantes para uma região que soube criar clusters de referência nos setores industriais e tecnológico, com uma perspetiva internacional de realçar.
No entanto, a economia portuguesa ainda vive um período de défice de competitividade, e que decorre de diversos desequilíbrios estruturais. A fraca capitalização do tecido empresarial e a dificuldade na obtenção de financiamento, a par de algumas políticas inadequadas, dificultam os próximos passos e a alteração sustentável da nossa realidade. Hoje o paradigma mudou, não obstante a combinação de fatores que potenciam conjunturalmente a competitividade das nossas empresas (as reduzidas taxas de juro, o preço do petróleo e a desvalorização do euro face ao dólar), o ambiente externo, a falta de dimensão e de associativismo e a atual capacidade financeira das empresas ainda impede o aproveitamento pleno dos fatores distintivos de Portugal e a devida correção dos desequilíbrios estruturais.
Devemos por isso continuar a apostar na constante valorização dos nossos recursos naturais, que são únicos no mundo, como é o caso, por exemplo da economia do mar, fator crucial do nosso desenvolvimento, que com a plataforma continental somos um dos maiores países do mundo em extensão. De facto, e de acordo com o nosso “Barómetro PwC da Economia do Mar”, de 2016, 97% dos executivos considera que o Mar tem potencial para melhorar a balança comercial portuguesa.
À nossa escala, Portugal tem de posicionar como um país mais competitivo, capaz de atrair projetos inovadores, apostando numa estratégia focada em alguns setores-chave, que possam continuar a contribuir para o crescimento e para o emprego. No campo da Inovação, Portugal ocupa a 30ª posição no Global Innovation Index 2016. De acordo com o mais recente índice de competividade, do Fórum Económico Mundial, Portugal ocupa a 46ª posição, tendo descido 8 posições num índice de mais de 140 economias. Os 3 países líderes globais em competitividade (Suíça, Singapura e Estados Unidos) todos estão no topo em matérias de eficiência do mercado de trabalho, na sofisticação dos negócios, na inovação, na relação entre universidades/setor privado e na capacidade tecnológica. Em matérias de recursos humanos, Portugal é ainda penalizado pelas suas práticas de contratação e despedimento (119º), pela baixa confiança na gestão profissional dos gestores (76º) e pela relação entre produtividade e ordenado (65º). Também de acordo com o mais recente estudo global da PwC, o Global CEO Survey, os CEO portugueses consideram que ter uma força de trabalho competente, adaptável e com um bom nível de educação é o fator mais relevante para a atual sociedade. Por fim, de acordo com o BCSD, Portugal apresenta escassez em 5 competências essenciais: Engenharia tecnológica, Marketing e comunicação, Automação, Ciências económicas e Operações e logística.
Portugal já tem muitos bons exemplos de empresas, empresários e gestores de sucesso, que demonstram que é possível criar valor de forma sustentada e competir num mercado global. Para o crescimento das empresas portuguesas é necessário manter a disciplina e rigor na gestão, garantir que o conhecimento passa efetivamente para os colaboradores, a cooperação empresarial (nos seus diversos clusters) partilha o conhecimento e a complementaridade, na expetativa de, em conjunto, internacionalizar os seus negócios, exportando produtos e serviços de qualidade reconhecida e valorizada. A competição não é feita pela via apenas da otimização dos custos mas fundamentalmente pela afirmação da qualidade, serviço e portanto, pela marca.
Na recente entrega dos Prémios Excellens Oeconomia, da PwC, a empresa vencedora foi, uma vez mais, nacional. Aliás, todas as vencedoras, nas quatro edições realizadas, não só são nacionais como exploram, no seu core business, recursos naturais nacionais, todas são igualmente empresas que se internacionalizaram com sucesso, que têm vindo a crescer de forma sustentada, que são rigorosas e disciplinadas nos seus processos internos, que inovam constantemente e que criam emprego, em Portugal e no estrangeiro.
Devemos portanto garantir que temos as melhores pessoas, com formação adequada e que partilhem da visão de longo prazo das suas organizações, com meios e motivação para dar boas respostas, sendo elas próprias parte das decisões e da concretização das oportunidades. Estar atento ao mercado, entender as suas tendências (globais e locais), escutar os consumidores e os stakeholders e implementar projetos inovadores, são fatores que não podem ser ignorados quando se pretende garantir a longevidade de determinada empresa. Em matérias de jovens talentos, a Maia tem já um bom exemplo: O programa “maiaGO”, uma iniciativa que, desde 2013, promove o desenvolvimento de competências essenciais e que liga os jovens às empresas, tentando ainda contribuir para a sua inserção na vida ativa. Importa assim garantir uma rápida capacidade de adaptação a circunstâncias mutáveis, quer seja na região, no setor, no país, junto dos colaboradores ou dos clientes. Uma empresa que aprenda a adaptar-se e mude, de acordo com os requisitos do mercado (regulatórios, de consumo ou tecnológicos), evita o trauma de declínio (em termos de crescimento) e as consequências de alterações inesperadas na liderança, que em último caso, podem colocar em causa a longevidade da empresa.
Não existem fórmulas mágicas ou receitas milagrosas para superar as dificuldades estruturais de um país mas estou certo que a solução passa por sabermos rentabilizar os recursos que temos, quer sejam naturais ou humanos. A solução passa seguramente por um maior comprometimento coletivo, publico e privado, com um rumo e um objetivo claro de como queremos ver o nosso país no longo prazo, daqui a 5, 15 ou 30 anos.
Portugal necessita portanto de ter planos efetivos para setores estratégicos, tais como o turismo, a indústria, a agricultura e mar ou os serviços especializados (dos quais são já exemplos a qualidade reconhecida dos nossos engenheiros e da proliferação de centros de delivery em tecnologia ou processos). Se não formos nós a aproveitar, aproveitarão os outros.
Edição 2016
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