Questiono-me frequentemente sobre o facto da Responsabilidade Social ser comumente conotada com filantropia, ligando-a,
Brízida Tomé
Investigadora em Economia Social
Questiono-me frequentemente sobre o facto da Responsabilidade Social ser comumente conotada com filantropia, ligando-a, redutoramente, a ações mais ou menos caritativas e, sobretudo, pontuais, ignorando outras vertentes em que a mesma se desenvolve ou deva desenvolver, bem como todo o impacto gerado.
Estas reflexões conduzem-me a questionar igualmente se não será a terminologia que a designa de “social”, que conduz a esta visão minimalista e pouco elucidativa. Em meu parecer, o termo social é habitualmente interpretado como revelador de algum estatuto, que sendo “muito social” induz à consideração de algum elitismo ou, sendo “meramente social”, se refere a uma franja pouco favorecida, ou mais desfavorecida. Raramente se entende o “social” num sentido mais lato, de Comunidade, de consciência societária e cívica.
No que respeita à Responsabilidade Social, de que tanto se tem teorizado e falado nas últimas décadas, e a que tantas organizações têm aderido de uma ou outra forma, importa salientar a visão europeia do que ela representa: “empresas que decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo” (Comissão das Comunidades Europeias. Livro Verde, 2001). Este conceito tem vindo a tornar-se mais abrangente, tendo a União Europeia vindo a desenvolver uma política social, traçando objetivos que visam a satisfação necessidades da geração atual, sem comprometer opções das gerações futuras, o que implica a prossecução de uma estratégia favorecedora do desenvolvimento sustentável, comprometida com o respeito pelos valores europeus, nomeadamente de Solidariedade, Igualdade, Coesão Social , Justiça e Equidade, Transparência, Responsabilidade individual e Social partilhada.
Assim, a Responsabilidade Social estende-se a vários níveis de atuação, levando a que o seu conceito seja encarado sob o ponto de vista de várias vertentes: a económica, a social e a ambiental (triple bottom line).
A Responsabilidade Social não pode limitar-se às empresas do segundo sector, cujo fim primeiro é a obtenção de lucro, mas deve ser prosseguida pelas instituições da Economia Social (também apelidada de terceiro sector) que na sua génese estão imbuídas dos mesmos valores, bem como pelo sector público, já que a prossecução do Bem-Comum tem forçosamente de ser a sua prioridade.
É evidente que o posicionamento estratégico de cada organização perante a Responsabilidade Social é diferenciado, e a hierarquização dos seus níveis de atuação poderá ser igualmente distinta, adaptada à realidade de cada uma, desenvolvida interna e externamente, valorizando mais uma das envolventes em detrimento da outra, ou apenas considerando uma delas.
No entanto, temos bem presente a mudança de paradigma empresarial , conducente à necessidade de abertura à envolvente externa e de legitimação junto de todos os grupos de interesses ou partes interessadas.
Quanto às partes interessadas, começando pela seu contexto interno, qualquer organização muito terá a ganhar quando, ao promover uma política assertiva para com os seus colaboradores cria neles uma motivação para a colaboração e empenho, sentido de partilha, que redunda numa efetiva atitude proactiva e aumento de produtividade. Não podemos esquecer que, ao mesmo tempo, a empresa está a contribuir para o bem-estar da sua Comunidade e a ajudar a desenvolver cidadãos também mais atentos e respeitadores dos valores partilhados.
Esta cultura organizacional, baseada em princípios de Responsabilidade Social, é factor reconhecido e valorizado por todos os grupos externos com que a organização mantém interligações, nomeadamente, fornecedores, clientes, concorrentes e Estado. A acrescida exigência dos Stakeholders quanto ao comportamento socialmente responsável, leva a organização a previlegiar o desenvolvimento social, a proteção ambiental e os direitos fundamentais, logo, a adoptar comportamentos transparentes, responsáveis e éticos, numa convergência de atitudes com a Responsabilidade Social.
Daí resulta a capacidade de alavancagem da Responsabilidade Social: a organização vê-se obrigada a maiores exigências a nível das competências dos gestores, na tomada de decisões, na maior acuidade no grau de prossecução dos objetivos e resultados obtidos, tornando-se em vantagem competitiva, traduzida na diferenciação da sua performance empresarial.
É este posicionamento da organização, num elevado patamar de exigência de qualidade, que a conduz à sustentabilidade, mas que simultâneamente produz o desenvolvimento sustentável da Comunidade em que se insere.
Edição 2017
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