Como qualquer setor da economia, o imobiliário está sujeito a tendências que acabam por definir ou condicionar a orientação dos investidores.
Filipe Gonçalves
Como qualquer setor da economia, o imobiliário está sujeito a tendências que acabam por definir ou condicionar a orientação dos investidores. Da mesma forma, os “consumidores” procuram ajustar os seus hábitos a essas tendências, por forma a tirar partido do melhor que estas lhe poderão oferecer. Atualmente, há duas tendências que parecem afirmar-se quer do lado da procura, quer do lado da oferta: Partilha e Serviços. Partilha de espaços imobiliários e Serviços associados à utilização desses mesmos espaços.
Do lado da partilha, apesar de já estamos familiarizados com o conceito do cowork, ainda poderá soar estranho quando se ouve falar de coliving. No entanto, há uma procura cada vez maior de espaços com esta vocação.
E o que é o coliving? São espaços que permitem uma combinação entre uma renda acessível e uma intensa socialização, prescindindo de algumas das valências que habitualmente temos para uso “exclusivo” nos edifícios em que vivemos. De forma resumida, por um preço mais baixo, prescindimos de alguns espaços (como cozinha e lavandaria) que, na verdade, já não utilizamos da mesma forma. Em “troca”, aceitamos partilhar a utilização dessas valências com os nossos vizinhos, enquanto socializamos com eles.
Se a descrição o fez pensar de imediato nas residências de estudantes, saiba que hoje em dia, este conceito começa a ser disponibilizado em edifícios de habitação “convencionais”. Em parte, os elevados preços fazem aumentar a procura por soluções alternativas. Contudo, os estilos de vida cada vez mais solitários parecem estar também na origem do aumento da procura de espaços integrados neste conceito.
Além do cowork e do coliving, regista-se um aumento da procura de outro tipo de espaços para partilhar. Destacam-se as cozinhas industriais colaborativas, com uma crescente procura por parte de empresas que apenas necessitam de algumas horas desse espaço para “afinarem” as suas receitas que depois serão produzidas em ambiente industrial e os armazéns partilhados (e de menor dimensão que o habitual) para operadores logísticos que procuram dar resposta, principalmente, à logística de proximidade / micrologística.
Outra das tendências com forte crescimento, é a procura de espaços que apresentem um nível de serviços que liberte o seu inquilino de preocupações que extravasem a sua atividade. Ou seja, cada vez menos se procuram espaços pelos metros quadrados em si, mas sim pelo número e qualidade dos serviços que são disponibilizados.
Uma vez mais, os espaços de cowork (e os centros de empresas) foram pioneiros a dar este tipo de respostas, mas hoje começam a surgir serviços associados, por exemplo, aos edifícios residenciais com a disponibilização de, por exemplo, lavandarias comuns ao edifício, serviços de limpeza, utilities integradas na renda, etc.
Na verdade, patilha e serviço poderão ser encarados como uma única grande tendência na medida em que andam, grande parte das vezes, lado-a-lado. Ou seja, a partilha de espaços, por norma, procura associar uma componente de serviço aos seus utilizadores. E a oferta de serviços, procura garantir a utilização dos equipamentos e/ou bens por parte de um maior número de pessoas por forma a garantir a sua rentabilização.
Fruto desta(s) tendência(s) antecipa-se uma transformação gradual de espaços industriais (e até de armazenagem) em espaços orientados para os serviços (terciarização das zonas industriais), bem como a conversão de espaços orientados para o comércio / retalho em espaços vocacionados para acolher empresas, cowork, coliving ou, até, vários destes conceitos.
Do lado dos investidores, estes conceitos permitem desenvolver projetos com menor investimento, mais ajustados à procura e com maior versatilidade e adaptação futura, bem como aumentar o leque de serviços que poderão oferecer e promover uma maior rentabilização dos seus espaços. Do lado da procura, será possível ter acesso a espaços disponíveis a um custo mais baixo, aumentar o contacto com outras pessoas e empresas, promover trocas e sinergias, bem como focar a atenção na sua atividade e não em tarefas de gestão corrente do imobiliário. Os territórios ganham uma melhor gestão do espaço, uma maior dinâmica económica e um significativo aumento da sua qualidade de vida, registando-se assim um forte contributo para que se alcance a sustentabilidade integral.
Edição 2019
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