A gestão moderna está hoje inundada por “clichês” e por uma certa banalização de conceitos, que são muitas vezes invocados a despropósito
Vitor Dias
Investigador
A gestão moderna está hoje inundada por “clichês” e por uma certa banalização de conceitos, que são muitas vezes invocados a despropósito ou mesmo desprovidos de conteúdo e sem qualquer sentido.
Em conferências e noutros eventos congéneres, é relativamente habitual, ouvir-se alguns oradores artilharem as suas comunicações com conceitos chave, que não raras vezes, usam como uma espécie de consumíveis para adocicar o discurso com termos técnicos que se tornaram moda.
Já por mais do que uma vez dei comigo a pensar, se não haverá por aí nenhuma corrente estética que se vai adaptando às tendências da linguagem dos gestores, como acontece na moda com a maquilhagem. Na verdade, a indumentária e a maquilhagem podem dizer pouco, muito pouco, sobre a qualidade e competência de uma pessoa, mas que impressiona, sem dúvida que sim.
Contudo, não é por uma empresa ou uma marca fazer apresentações muito impactantes, alicerçadas numa linguagem que esteja na moda e utilizando recursos que suscitem um certo sensacionalismo, que o anúncio das suas inovações as vai conseguir afirmar e impor no mercado.
O momento da verdade
No momento da verdade, quando quem decide quiser certificar-se de que se trata mesmo de um produto ou de uma solução genuinamente inovadora, esse facto terá de ser inequivocamente comprovável e completamente indesmentível.
Quem falhar uma vez, por mais que invista em comunicação e em operações de charme, jamais conseguirá reconquistar a confiança do mercado.
Ter um sistema eficaz de inteligência competitiva, para quem se quer afirmar no mercado global, pela sua performance em inovação e desenvolvimento de novos produtos ou soluções, é absolutamente imprescindível.
Se há área em que a informação se revela especialmente crítica, é precisamente a da inovação.
Normalmente, os montantes que se investem em investigação e em projectos d teste de novos produtos
são invariavelmente avultados e de altíssimo risco, pelo que a margem para o fracasso, tem de ser reduzida ao mínimo possível.
Assim, compreender-se-á facilmente, que o risco de investir forte em inovação, para depois chegar ao mercado e ser surpreendido por alternativas similares que concorrem directamente com as nossas inovações, pode ter consequências desastrosas para qualquer negócio.
A par do investimento e do foco nos projectos que se têm em laboratório ou em cooperação com parceiros científicos, é preciso cuidar de aspectos tão relevantes e críticos, como a blindagem da informação inerente a esses projectos e em simultâneo, rastrear permanentemente o que está acontecer no nosso mercado, mas mais do que isso, procurar antecipar o que os nossos concorrentes se preparam para apresentar, competindo diretamente connosco.
O precioso contributo da inteligência competitiva
A inteligência competitiva não é nenhuma metodologia de espionagem. Não é, nem poderia ser isso, porque a espionagem económica é ilegal e não é ética. Mas é uma disciplina com uma metodologia baseada no conceito tecnológico do radar. Uma disciplina que se debruça sobre a deteção de todos os objectos dotados de informação crítica para o negócio da empresa e para o seu posicionamento no mercado. O seu método de atuação é concretizado através de uma randomização radial que rastreia desde o epicentro da empresa até às margens máximas ao alcance dos seus diversos instrumentos de colheita, análise, interpretação, classificação e aplicação efectiva da informação dotada de significado crítico.
A observação atenta e criteriosa de todos os dados, mesmo aqueles que aparentemente podem não suscitar qualquer interesse inicial, deve ser objeto de um refinamento analítico dos seus meta-significados, na certeza de que há por vezes informação, que depois de bem dissecada, acaba por revelar uma importância bem diferente daquela que aparentava à priori. Quantas vezes é nos pormenores que pareciam insignificantes, que um concorrente acaba por denunciar a sua estratégia para a inovação. Pormenores que podem ser encontrados nas suas fontes de financiamento, no tipo de matérias-primas que está a comprar, ou mesmo nas qualificações dos recursos humanos que está a contratar num certo momento. Tudo tem significado e valor informativo, confirmando que o acaso é uma mera questão de retórica.
Para ilustrar melhor a matéria que aqui abordo, deixo os leitores a pensar, o quanto seria desastroso para uma empresa farmacêutica, investir milhões numa nova molécula para produzir um fármaco pretensamente revolucionário, se quando o fosse lançar no mercado, um concorrente seu se tivesse antecipado, fazendo jus à velha máxima, de que, quem parte na frente parte sempre em vantagem e quem corre atrás, vai em desconto do prejuízo. Do prejuízo que advém pela perda da credibilidade da sua inovação. De uma inovação que nunca chegou a ser.
Na era da informação, quem a tem e sabe usá-la, tem poder… E é esse poder que a inteligência competitiva pode aportar a uma empresa.
Edição 2017
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