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A globalização tirou milhões de pessoas da pobreza, criou novos mercados às empresas, ofereceu sem dúvida novas oportunidades e soluções

Paulo Ramalho

Vereador da Economia e das Relações Internacionais da CM Maia

Os desafios da globalização e geopolítica

A globalização tirou milhões de pessoas da pobreza, criou novos mercados às empresas, ofereceu sem dúvida novas oportunidades e soluções à humanidade, mas trouxe também novos problemas, ou pelo menos, novos desafios. Hoje tudo é mais interdependente, a soberania dos países está mais condicionada e a nossa própria vontade está mais limitada. A competição territorial, empresarial e até profissional, ganhou escala e tornou-se mais exigente. A montra e o palco são muito maiores, a concorrência é feroz e a luta é muitas vezes desigual.

Daí que observamos frequentemente vozes que apelam à necessidade de maior regulação, de maior concertação no plano internacional e do reforço de poder de plataformas supranacionais, como por exemplo a Organização Mundial do Comércio. Nos dias de hoje, a análise e estudo da geopolítica não é apenas preocupação dos decisores políticos com responsabilidades nacionais. Nem sequer apenas dos políticos.

Acresce que a revolução digital acelerou processos, alterou o tempo do tempo e o espaço do espaço. Num ápice, tudo ficou mais rápido e muito mais próximo. A velocidade e a distância parecem depender de um simples clique. Os tempos de agora são de incerteza e de grande volatilidade. Os ciclos económicos são cada vez mais curtos. E o que é novidade hoje, pode amanhã já ser obsoleto. Planear é cada vez mais difícil. Sendo que o talento e a inovação continuam a fazer a diferença.

E nesta realidade, as empresas são quem estão no olho do furacão. Até porque por estes dias, o destino da internacionalização já não é exclusividade das grandes empresas, mas também das médias, pequenas e até das micro, que mesmo que não tivessem tal ambição, são naturalmente empurradas pelos contextos criados pelo fenómeno da globalização.

E se dúvida subsistia, ela ter-se-á dissipado com a pandemia da Covid-19, que de um momento para o outro, interrompeu as cadeias de consumo à escala mundial. Fecharam-se fronteiras, e os aviões que cruzavam todos os dias os céus, dando voltas ao globo, foram obrigados a permanecer semanas a fio, parados nos aeroportos.

Surpreendentemente ou não, com maior ou menor dificuldade, a maioria das empresas tem sabido resistir, demonstrando grande capacidade de resiliência e de adaptação às novas circunstâncias. Ensaiaram novos caminhos, descobriram novos talentos, foram agarradas novas oportunidades.

Este está a ser um tempo de grandes saltos tecnológicos, de uma espécie de transição digital forçada, designadamente para as empresas europeias. O teletrabalho, o comércio eletrónico, o marketing digital, sofreram um incremento que muitos julgavam impossível para os nossos dias. O algoritmo ganhou ainda mais preponderância nas nossas vidas.

Não acredito que passada esta crise pandémica, possamos assistir a uma espécie de “desglobalização”. O que não significa que não venhamos a observar, pelo menos na Europa, a ações concretas tendentes a restringir o “perigo “da excessiva interdependência.

Em termos geopolíticos, a pandemia trouxe também novidades, que não deverão ser desconsideradas pela comunidade empresarial. Com um pacote de ajudas sem precedentes, a União Europeia afirmou-se finalmente como um bloco capaz de promover de forma estratégica a revitalização da sua economia e alimentar a capacidade competitiva das suas empresas. A China vai manter a sua estratégia económica, mas vai intensificar o seu investimento em investigação e desenvolvimento. Os Estados Unidos, com a nova administração Biden, vai inverter algumas das politicas isolacionistas de Trump e regressar aos acordos climáticos de Paris. A rivalidade entre a China e os Estados Unidos cresceu com a pandemia, e vai continuar a crescer.

Sempre vi as empresas como algo mais do que simples unidades produtivas, cuja razão de existência assenta exclusivamente em pressupostos de ordem económica, e designadamente na capacidade de remuneração dos seus acionistas. Enquanto geradoras de postos de trabalho e riqueza, as empresas são também chamadas a assumir importantes responsabilidades sociais, quer com a realização dos seus próprios trabalhadores e famílias, quer com a sustentabilidade e desenvolvimento dos territórios de que são partes integrantes.

Daí que quando olho para o tecido empresarial instalado na Maia, tenho sempre presente o contributo fundamental que este presta ao desenvolvimento do nosso território local. Mais ainda, nesta altura de “pandemia”, que está a gerar uma crise social e económica sem precedentes.

O nosso município, fruto da resiliência, engenho e determinação destes empresários e da sua comunidade laboral, insiste em continuar a ser o primeiro exportador da Área Metropolitana do Porto e um dos maiores de Portugal, um ator principal neste mundo da globalização. A todos eles, empresários e trabalhadores, o nosso maior reconhecimento.

Edição 2020