Oportunidade para repensar, reestruturar e refortalecer as organizações para o futuro
Paulo Tomás Ferreira
Economista, gestor e docente
Oportunidade para repensar, reestruturar e refortalecer as organizações para o futuro
A maioria dos líderes sabe para onde quer levar a sua organização e tem bem em mente a visão a longo prazo – o seu sonho. Neste sonho residirá a vontade de que o seu negócio possa, um dia, explorar determinante e decididamente o domínio do digital. Este domínio de forma surpreendente, ou talvez não, prefigurava-se, aos olhos de diferentes líderes, como sendo ainda altamente disruptivo para o negócio tradicional e demasiado avançado para o seu tempo. Tal levou a que projetos, iniciativas, desejos e vontades digitais fossem sucessivamente adiadas.
Perante tempos em que a única certeza é a incerteza em que vivemos, mostrou-se vertiginosamente imperioso avançar de forma ora decidida e inevitável para a digitalização. Isto em prol da viabilidade económico-financeira do negócio e da satisfação do cliente e do colaborador, por via da análise da VoC e da VoE [Voice-ofthe- Customer e Voice-of-Employee, respetivamente]. Deixou agora de ter validade a procura das condições ideais e da solução perfeita, assim como a resistência à mudança que colecionava argumentos para não avançar e levavam a procrastinar a implementação de soluções digitais.
Elejo dois tópicos principais que iremos abordar sucintamente para que o desafio da digitalização seja superado, e com isso as organizações do futuro [que é já bem presente], sejam repensadas, reestruturadas e refortalecidas – os processos e a cultura.
Uma visão cada vez mais orientada a processos – o quão crucial é para as organizações!
Para que a digitalização possa ser uma realidade e, para que esta possa ser consistentemente sustentável nas organizações, é determinante inovar, complementar ou adaptar, desenhar e implementar processos transparentes, robustos, otimizados, definidos e alinhados com as novas exigências do século XXI e os desafios que o domínio digital encerra.
Esta nova orientação leva as organizações a refletir nos resultados que pretende alcançar e na melhor forma de os conseguir suplantar, tanto por via do modelo de negócio, como na arquitetura metódica dos processos [críticos] de negócio para poder trabalhar melhor de forma sustentada.
No modelo de negócio é definido o racional acerca do modo como a organização cria, captura, partilha e entrega valor – o que a organização faz e como gera receita e resultados. A digitalização cria claramente a possibilidade de desenvolvimento de novos modelos de negócio e a descoberta
de novos blue oceans.
Por sua vez, a definição e conhecimento dos processos críticos, que são transversais à organização, permitirá implementar um sistema de gestão no qual todos possam colaborar no dia-a-dia, no melhor compromisso entre os interesses internos dos departamentos [eliminando silos] e da journey e expectativas dos seus clientes, também eles agora e cada vez mais digitais.
Todavia, para que esta transformação digital ocorra nas organizações não basta a orientação ao process thinking, para além do habitual functional thinking – é necessária uma cultura organizacional que promova, abrace e adote as mudanças com valor acrescentado diferenciador.
A importância de uma cultura empresarial de excelência!
É essencial cultivar a excelência na gestão – que é determinante para a resiliência da organização – criando as condições para evoluir e para mudar [já que a mudança é a única constante nos negócios…], de forma contínua, perene, ágil e flexível. Isso só é possível com uma cultura empresarial inclusiva, coesa, clara e adequada, participada e partilhada por todos os colaboradores que constituem a organização, from top to bottom e bottom-up.
A cultura, que é a ordem social tácita de uma organização, molda atitudes, comportamentos e mentalidades de forma abrangente e duradoura. É uma das principais alavancas à disposição dos líderes de topo na sua busca interminável para, pelo menos, manter a viabilidade e a eficácia organizacional.
Quando adequadamente alinhada com valores, necessidades organizacionais, pessoais e individuais, a cultura pode libertar, direcionar e potenciar energia para um objetivo comum e estimular a capacidade de uma organização prosperar e aprender. Neste sentido, a cultura desenvolve não só a flexibilidade e a autonomia em resposta a novas oportunidades e exigências, como também um comprometimento com um sentido de propósito claro e envolvente.
Dizia já Peter Drucker que a “Cultura come a estratégia ao pequeno-almoço”. Mas de que serve uma boa estratégia se as barreiras culturais a impedem de ser levada à prática, e assim trilhar o caminho para alcançar o seu sonho [a visão] digital? Está ao seu alcance mudar a sua organização!
Edição 2020
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