Existem países, apenas alguns, que por razões naturais, pouco têm que fazer para obter o sucesso. Dispõem de recursos naturais valiosos, de solos
Carlos Mendes
Presidente da Associação Empresarial da Maia
Existem países, apenas alguns, que por razões naturais, pouco têm que fazer para obter o sucesso. Dispõem de recursos naturais valiosos, de solos férteis ou de privilegiada localização geográfica, pelo que apenas precisam de bom senso na sua gestão.
Outros, em número igualmente limitado, por não terem aquelas características, dificilmente poderão alcançar o sucesso dos anteriores, por maior que seja o seu esforço.
Os restantes, a esmagadora maioria, terão que competir entre si, num mundo que é hoje global.
Portugal é um desses países e, numa economia aberta à concorrência e ao exterior, o mesmo se passa com as suas empresas.
No combate à profecia de que “…sem o ultramar, estamos reduzidos à indigência, à caridade das nações mais ricas…” as empresas em geral, e as PME’s em particular – representantes da esmagadora maioria do tecido empresarial nacional – vivem momentos de grandes desafios:
Na generalidade dos casos, a internacionalização, a procura de novos mercados, nomeadamente os emergentes, e a consequente redução da exposição ao mercado nacional, é condição necessária para a sustentabilidade futura do negócio. São já poucos os casos de monopólio empresarial, havendo inúmeros exemplos de empresas que desapareceram por não terem sido capazes de diversificar os seus mercados, ficando à mercê de novos entrantes. Na Maia existem muitos e bons exemplos desta aposta que, nalguns casos representa mais de metade do volume de negócios.
A aposta na inovação, seja de produto ou de serviço, mas também de comunicação é igualmente um ponto chave desse desejado sucesso, destacando-se aqui a necessária adaptação a uma nova era, onde a economia digital, nomeadamente o comércio electrónico, as redes sociais, e todas as tecnologias de informação desempenham um papel fundamental, deve ser promovida como factor crítico. São hoje raras as empresas, mesmo as que operam em sectores francamente tradicionais, que conseguem elevados indicadores de sucesso, mantendo inalterados os seus processos, sejam de produção, de comercialização, de comunicação ou de imagem. E hoje são as empresas mais inovadoras, aquelas que apresentam melhores indicadores de crescimento.
A promoção da formação, ou de uma forma mais lata, do capital humano, como forma de valorização dos recursos humanos que se desejam mais criativos, mais adaptados, mais motivados, mais competentes, ou de uma forma mais simples, mais felizes, caminho preferencial para a competitividade das empresas, deve ser uma aposta recorrentemente renovada, orientada para empregados e empregadores. É absolutamente crítico que as empresas identifiquem a formação como uma ferramenta de desenvolvimento e de retenção dos colaboradores. Todas as empresas que descurem este aspecto estarão condenadas ao fracasso futuro.
Porque as empresas geram impactos na comunidade, e porque apenas existem por ela, é fundamental que o tema da responsabilidade social e ambiental, seja colocado numa das suas prioridades. Porque todos os stakeholders são importantes, a preocupação com o bem estar dos colaboradores, clientes e comunidades envolventes, mas também a redução de impactos negativos da actividade no meio ambiente, a gestão deve adoptar uma estratégia de mudança comportamental que envolve maior transparência, ética e valores na relação com todos. São hoje crescentes e cada vez mais valorizados pelos consumidores, os negócios designados por “produção biológica”, “ecoturismo”, “comércio justo”, “energias limpas”, entre muitos outros exemplos.
A identificação de soluções de financiamento para investimentos estratégicos, nomeadamente por recurso aos fundos nacionais e europeus, deve ser olhada como uma oportunidade irrepetível. Mas sem descurar todas as outras. Da banca comercial ao crowdfunding. Dos fundos de capital de risco aos businessangels. Para o efeito é importante que as empresas apostem na robustez das suas contas e fundamentalmente que tenham uma estratégia de médio prazo. Certamente que boas ideias ruiram por falta de uma estratégia, e muitas outras por falta de financiamento.
Naturalmente que ao estado cabe uma parte relevante nesta listagem de factores críticos de sucesso.
Desde logo a teia e a instabilidade da legislação, da laboral à fiscal, passando pelos processos burocráticos muitas vezes complexos e morosos, quase sempre de cumprimento oneroso, algumas vezes incompreensíveis e raramente promotores de confiança, prejudicam o investimento e consequentemente a criação de emprego. Nos dias de hoje, é irracional o volume de recursos humanos, materiais e financeiros que as empresas dedicam a matérias, perdendo muitas vezes o foco naquilo que é realmente importante – criar riqueza, promover emprego.
Ainda e sempre as parcerias e o funcionamento em rede colaborativa, envolvendo clientes e fornecedores, mas também outras partes interessadas, desde logo a comunidade escolar e científica, mas também a comunidade empresarial envolvente, deve ser vista como um oportunidade ao invés de uma ameaça. O acesso a mais e melhor informação, às melhores tecnologias, aos processos produtivos mais eficientes, aos modelos de comunicação mais eficazes, podem ser potenciados através daquele envolvimento. É neste aspecto que as Associações de classe, sector ou região podem emprestar um maior apoio às empresas.
Com a resiliência que a todos caracteriza, com estratégia, com competência e com ambição, os desafios serão seguramente superados.
É esse o desejo da AEMaia. É para essa missão de promover, proteger e representar os associados que existimos.
Edição 2016
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