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Quem me conhece, sabe que sou fã das novas tecnologias, gosto de estar sempre informado de tudo o que de novo existe sobre o assunto

Artur Bacelar

Director do Jornal Maiahoje

O papel, as notícias e a imprensa regional.

Quem me conhece, sabe que sou fã das novas tecnologias, gosto de estar sempre informado de tudo o que de novo existe sobre o assunto e mais cedo ou mais tarde, após ponderação, aplicar as inovações, tanto no ambiente pessoal e familiar, como no meu trabalho.

Há mais de uma década que tenho acompanhado o tema “Paper is Dead” (o papel morreu), em vários grupos de discussão internacionais. Uma década atrás, era opinião quase unânime que nos 10 anos seguintes já não faria sentido haver papel escrito.

Hoje, com mais de 50 anos de vida, fazendo parte daquele grupo etário que dizem já nada querer apender, continuando adepto das novas tecnologias, não dispensando a internet, o meu Smarthphone, um Tablet, ou mesmo uma Smart Tv, lá vou lendo os jornais, os livros, quando posso e até passo os olhos pelos flyers dos hipermercados.

Com responsabilidades profissionais acrescidas, há mais de 17 anos que coloquei a primeira edição do Maiahoje online. Na mesma altura adquirimos software que nos permitia fazer vídeo em directo e chegamos a transmitir, via nossos servidores, de uma feira onde estivemos presentes.

Chegamos assim a 2017 com a ideia que este ano, timidamente, iremos ser regulares em emissões vídeo, em directo ou diferido, através da nossa MaiaHoje Tv. Mas a questão coloca-se: vai a edição papel acabar?

A resposta é clara. Não. Foi mais fácil acabar com tecnologias recentes como Fax do que com a invenção de Gutemberg no século 15.

Apesar das emissões áudio e vídeo internet, dos livros e manuais em acrobat, das notícias que ao segundo recebemos nas redes sociais, o jornalismo em papel está vivo e promete estar por muitos anos. Já li inclusive sobre a possibilidade de transformar o papel num ecrã de vídeo, a um custo reduzido, sem baterias como as conhecemos e que depois reciclamos. A tecnologia já existe. Não está massificada. Sofrerá muitas alterações e evoluções, mas confirma: o papel não morreu. Um dos exemplos de que ouvi falar tratava-se de uma espécie de folheto entregue à entrada de uma ópera onde era possível acompanhar o vídeo da mesma, legendado, com bateria suficiente para aquela altura.

Uma das causas para esta teimosa sobrevivência é a profissão que abraço.

Como referi, as notícias nas redes sociais chegam ao segundo e são partilhadas à mesma velocidade, espalhando muitas vezes, um boato. O jornalismo é e será ainda a forma mais segura de se ter acesso a notícias, mas isso não responde ao segredo de longevidade do papel.

Certo dia, um leitor, questionado sobre o porquê de comprar jornais semanais e diários, respondeu dizendo que «são diferentes, as matérias são tratadas de forma diferente, mais aprofundadas». A mesma pergunta feita a um chefe de redacção de um semanário vem confirmar «enquanto os colegas dos diários lidam com “dead lines” muito apertadas e vivem o stress das horas até à entrada na máquina, nós temos mais tempo para pensar, maturar, pesquisar, investigar e muitas vezes até ter um “sumo” diferente», disse acrescentando «dou-lhe um exemplo, um dia fui fazer a reportagem de uma conferência e como habitualmente os colegas lá foram passando, noticiando no dia seguinte. Como tive mais tempo, não tive a pressão da “rotativa à espera”, permitiu-me estar até ao fim, quase com os diários já na rua e acabei por fazer uma notícia, não só com os dados que tinham, mas mais elaborados, bem como outras notícias que viriam, após a saída da minha peça, a fazer as parangonas durante toda a semana seguinte nos diários. Por isso, os nossos leitores são fieis e não há um choque entre um jornal diário e um semanário. Completam-se», disse.

Será esta a chave da sobrevivência do papel? A complementaridade?

Num dos grupos de discussão dizia alguém mais radical que «ainda não vi ninguém a limpar o rabo a um tablet ou embrulhar castanhas num smartphone».

Para mim, outro dos factores, face à gigantesca capacidade de dados que se obtém na internet, continua a ser mais fácil pesquisar uma noticia recente num jornal.

O jornal em papel é um produto com prazo de validade até à edição seguinte. É fisicamente impossível apagar o que lá vem escrito nos milhares de exemplares. Após a nova edição é história pura sobre o que se disse em determinada altura. Está escrito. Não pode ser alterado. Para o bem e para o mal é garantia de verdade, seja do facto, seja do que e quem o escreveu, em milhares de exemplares. Já com o digital não é bem assim. Qualquer assunto pode ser alterado a qualquer momento. Mesmo o registo em papel (print screen) do mesmo pode não ser verdadeiro, não consegue provar que naquele momento estava lá escrito. É um print contra milhares de exemplares impossíveis de alterar.

As décadas vão passando e as gerações também. Os jovens que nasceram na era “facebook” em breve vão ter cinquenta anos e é minha profunda convicção que o jornal irá continuar debaixo do braço, a ser lido nos cafés e o melhor meio informativo e publicitário.

O Maiahoje chega de 15 em 15 dias às mãos dos seus leitores. Nesses 15 dias de validade, as suas notícias e publicidade, face às televisões, rádio e jornais diários, são passadas de fio a pavio. O mesmo exemplar passa por dezenas de mãos, pelo menos o dobro dos diários. São cerca de 50 a 60.000 os leitores estimados dos 3.000 exemplares que editamos, cerca de 50% da população maiata, o que nos torna lideres de informação regional.

Quando a rotativa começar a imprimir os vídeos que iremos observar no papel do futuro, o Maiahoje estará na linha da frente. Esta é a minha convicção.

Edição 2016