Aquele que para muitos é considerado como o pai da gestão moderna, deixou-nos um legado de ensinamentos e reflexões que ainda hoje
Filipe Gonçalves
Managing partner da Strategy XXI, Consultor em estratégia
Aquele que para muitos é considerado como o pai da gestão moderna, deixou-nos um legado de ensinamentos e reflexões que ainda hoje deveremos procurar incutir no planeamento estratégico e operacional das nossas empresas e organizações.
Peter Drucker, um dos mais reconhecidos pensadores dos efeitos da globalização na economia em geral e nas organizações em particular, defendia que as empresas que consigam vender os produtos/ serviços certos, aos clientes certos, com a distribuição adequada, por um preço ajustado e no momento oportuno, verão o seu esforço de vendas reduzido a quase zero, na medida em que as vendas se tornarão automáticas, por se ter avaliado corretamente a procura e trabalhado devidamente a oferta.
Esta visão, aparentemente simples e bastante lógica, é, na verdade, exigente e complexa, na medida em que obriga a um constante planeamento e definição estratégica e operacional por parte dos gestores responsáveis pelas empresas e organizações. Os desafios à gestão atual, são, assim, cada vez mais e mais exigentes.
Também o Portugal 2020, certamente uma excelente oportunidade para as empresas portuguesas, acrescenta um novo e interessante desafio à gestão, na medida em que o sucesso de cada candidatura, dependerá diretamente da capacidade de execução por parte das empresas, mas, também, da sua visão e alinhamento com o mercado. Torna-se assim imperativo que as empresas definam e implementem um Modelo de Gestão alinhado com as suas necessidades e capacidades, com o mercado e estratégia regional e nacional.
Este Modelo de Gestão, deverá procurar construir uma visão de futuro assente na inovação, na melhoria constante, na criação de valor, no reconhecimento das equipas e na valorização dos recursos. Em suma, deverá procurar garantir a sustentabilidade de longo prazo da organização.
Peter Drucker dizia que “Planeamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com um futuro de decisões presentes”. Assim, a construção da visão e do Modelo de Gestão, são fundamentais e deverão resultar da capacidade de tomada de decisão por parte dos gestores, num processo de antecipação das grandes tendências e da evolução dos mercados.
A Comissão Europeia, no seu relatório “Preparar o futuro: conceber uma estratégia comum para as tecnologias facilitadoras essenciais na União Europeia”, defende que uma parte significativa dos bens e serviços que estarão disponíveis no mercado em 2020 são ainda desconhecidos. Torna-se assim evidente que a antecipação e a capacidade de analisar e identificar as tendências na área de atuação da sua empresa, serão vitais e condições de base para garantir o sucesso. E parafraseando, novamente, Drucker, “A melhor forma de prever o futuro, é criá-lo!”.
Uma forma de criar o futuro, será, porventura, com o apoio dos fundos disponíveis no Portugal 2020. Então, o que poderão, afinal, esperar as empresas deste instrumento?
No essencial, poderão contar com financiamento para os seus projetos na área da inovação e da internacionalização. Este financiamento, que por princípio é reembolsável, poderá ser convertido, em parte, em não reembolsável, caso as empresas consigam executar, com sucesso, as suas candidaturas e ultrapassar as metas a que se propuseram.
Deveremos medir o sucesso na aprovação da candidatura? Claramente, não! Ter uma candidatura aprovada não é, nunca, garantia de sucesso. Pelo contrário, pode ser o maior problema da empresa e dos seus gestores. O sucesso da operação, apenas se mede no fim. Só depois de executado (leia-se, bem executado) é que se poderá considerar, ou não, que se teve sucesso na candidatura. Se não houver capacidade de concretização, mesmo com a candidatura aprovada, é preferível não fazer nada.
Assim, um bom modelo de gestão, será um instrumento fundamental para garantir o acompanhamento de qualquer operação e, enquanto gestor, deverá acompanhar de perto a operacionalização do processo, garantir que se estão a cumprir as metas intercalares, entregar os relatórios intercalares, e, caso se antecipem desvios, apresentar os pedidos de reprogramação atempadamente. Deverá também, garantir e verter para os contratos com os seus prestadores de serviços, o seu planeamento e a garantia de cumprimento e entregas atempadas.
A apresentação de uma candidatura ao Portugal 2020, deverá, por isso, assentar num conjunto de premissas base. Os gestores, deverão previamente, com tempo e método, avaliar o projeto que pretendem candidatar e aferir a sua sustentabilidade futura, a capacidade e real interesse da empresa em implementar o projeto, a mais-valia resultante do mesmo (um novo produto e/ou serviço, a inovação de um já existente, a abordagem a novos mercados, etc.), entre outros aspetos.
Depois, deveremos encarar qualquer candidatura, como se estivemos a apresentar uma proposta a um cliente. Ou seja, temos que “vender” o nosso projeto ao avaliador e isso faz-se com a fundamentação e justificação da nossa proposta. O que não se expressar na candidatura, é como se não existisse.
Outro aspeto importante, é nunca descurar o papel da empresa na candidatura. Deverá ser a empresa a definir a sua estratégia, a descrever o seu produto, a fundamentar a sua abordagem aos mercados e a inovação dos processos, bens ou serviços. Só quem conhece a estrutura, o produto e o seu potencial, poderá apresenta-los de forma simples e convincente. Os gestores não deverão, nunca, delegar em terceiros este trabalho. Será a empresa a vincular-se com um contrato de financiamento e que em caso de incumprimento, resultará em penalizações.
O Modelo de Gestão do projeto deverá estar perfeitamente alinhado com a estratégia da empresa e esta com o mercado. Todos os pressupostos e metas que se apresentarem numa candidatura, deverão ser validadas pelo mercado. De outra forma, dificilmente se conseguirá garantir o sucesso da operação e se a mesma não for viável, será preferível não a operacionalizar.
Como se percebe, com ou sem a necessidade de apresentação de candidaturas ao Portugal 2020 ou a outros instrumentos de financiamento, torna-se, cada vez mais, essencial que as empresas definiam, incorporem e implemento um Modelo de Gestão eficaz e alinhado com a organização e com o mercado.
O Modelo de Gestão deverá assentar na aposta na diferenciação relativamente à concorrência, num profundo conhecimento dos mercados, na inovação enquanto fator diferenciador e na afirmação da marca. Desta forma, tornar-se-á mais simples ajustar a oferta à procura e tornar as vendas num processo automático.
Edição 2015
© 2024 several.pt