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A violência com que a pandemia da COVID-19 impactou as nossas vidas é uma realidade inelutável, que nos obriga a repensar com o maior

António Silva Tiago

Presidente da Câmara Municipal da Maia

Repensar estratégias com pragmatismo

A violência com que a pandemia da COVID-19 impactou as nossas vidas é uma realidade inelutável, que nos obriga a repensar com o maior pragmatismo possível todos os nossos planos estratégicos, a rever os grandes projetos e a, quiçá mesmo, olhar de outra forma para os nossos sonhos e desígnios coletivos.

Creio que esse exercício, se for concretizado convocando todos os atores que nos podem ajudar a repensar criticamente a forma de ultrapassar os novos e extremamente exigentes desafios que teremos de enfrentar, pode sem dúvida revelar-se uma oportunidade de excelência para robustecermos a nossa força coletiva. Será sem dúvida um exercício positivo, que nos será muito útil enquanto sociedade que sabe potenciar os desígnios comuns para fortalecer a sua coesão social e incrementar o seu desenvolvimento humano e económico. Uma utilidade que em contextos de extrema adversidade como aquele que estamos a enfrentar atualmente, será acrescida de uma aprendizagem adquirida em cenário real.

Entendo assim que o Estado, porventura mais hoje do que nunca, tem um papel fundamental a cumprir, assumindo a sua missão de facilitador da iniciativa privada, mas também de estrutura institucional de suporte que crie os instrumentos legais necessários a um rápido ajustamento à nova realidade. Uma nova realidade que temos de encarar não somente como circunstancial, mas como tudo indica, principalmente, como marcadamente estrutural, face às condicionantes sanitárias que, ao que parece, vieram para ficar. Essas inesperadas condicionantes, que teimam em querer tornar-se definitivas, vão exigir uma mudança radical de comportamentos individuais e coletivos que garantam a máxima proteção possível contra o atual agente infecioso. No entanto, nenhum de nós terá hoje dúvidas que terá de operar-se uma adaptação estrutural que nos proteja também contra putativas ameaças que os cientistas advertem como passíveis de surgir no futuro.

Estou certo que teremos de integrar nos currículos de ensino e formação dos cidadãos de amanhã, não apenas uma forte aposta na educação para o exercício de uma cidadania ativa e responsável, socialmente solidária e democraticamente participativa que resulte em comportamentos cívicos corretos, mas teremos igualmente de fomentar ainda mais uma visão adequada sobre o uso da tecnologia ao serviço do bem-estar e da segurança dos seres humanos, potenciando todas as vantagens que poderemos extrair da evolução da Ciência e da Tecnologia, pondo-as  ao serviço da prevenção, da profilaxia e do combate às ameaças da magnitude da pandemia que atualmente nos aflige.

As resistências que se faziam sentir quanto a uma economia circular muito apoiada na digitalização, perderam finalmente a sua razão de ser, porquanto a digitalização dos territórios e dos processos produtivos, assim como da gestão das interações humanas permitirá controlar, minimizar e mitigar os efeitos indesejáveis da economia linear ou convencional no ambiente e melhorar o desempenho ao nível da sustentabilidade integral.

Estou absolutamente convicto que uma das respostas imprescindíveis no que alude à imperiosa necessidade de repensarmos coletivamente o nosso futuro, envolvendo e comprometendo toda a cidadania, atores sociais e agentes económicos, terá de passar por uma visão pragmática, que resulte na gestão integral e inteligente de todo o ecossistema territorial, nas suas múltiplas dimensões: ambiental, humana, social e económica.

Para que consigamos alcançar esse desiderato, vamos precisar de obter atempadamente o máximo de informação possível, que nos permita tomar decisões pragmáticas, assertivas e suportadas em dados reais e fiáveis.

Este é o momento de concluir a transição digital, tendo em conta os benefícios da desmaterialização, da mudança dos modos de consumo e de vida, face aos seus impactos positivos ao nível da descarbonização e da melhoria efetiva da qualidade ambiental que isso representará.

Doravante, teremos de entender a governança das organizações e das comunidades, tendo presente que a sustentabilidade económica, sendo essencial à garantia da melhor qualidade de vida e do bem-estar social possíveis, não é um fim em si mesma, mas é essencialmente um meio para alcançar um equilíbrio sustentável no nosso ecossistema. E esse é o caminho e o grande desafio do futuro, ou se preferirem, a nossa maior Esperança…

Edição 2020