A inteligência competitiva é uma disciplina cada vez mais presente na gestão estratégica.
Competir com inteligência é competir com recurso a um
Vitor Dias
Investigador
A inteligência competitiva é uma disciplina cada vez mais presente na gestão estratégica.
Competir com inteligência é competir com recurso a um conjunto de conceitos, técnicas e instrumentos práticos que já foram amplamente testadas noutras áreas, nomeadamente para fins militares e de segurança dos estados. Mas não é, de todo, fazer espionagem. E não é, porque essa atividade além de ilegal, é eticamente reprovável e pode ser letal para qualquer empresa.
Nos nossos dias, em que a economia tende cada vez mais para uma crescente sofisticação dos negócios, a inovação assume um fortíssimo peso na performance competitiva das empresas. Uma performance competitiva que é tanto melhor, quanto mais se basear a gestão, no conhecimento e na sua aplicação concreta em inovação diferenciadora que aporte vantagens competitivas.
A tomada de consciência do valor do conhecimento transposto para inovação, tem levado à mudança de paradigma na governança das organizações. Hoje, sem embargo do foco nos resultados, há uma relevante preocupação com a produção de conhecimento, e o desenvolvimento de novos produtos e de soluções inovadoras, tendo em conta que é por essa via que se alavanca o crescimento e o reforço da posição competitiva.
A ligação à Ciência, através de uma cooperação proactiva com os centros universitários de referência, onde se investe, com propósitos e com um sentido de aplicação prática, na investigação científica e no desenvolvimento de testes experimentais que visem a aderência dos projetos à realidade e à sustentabilidade económica, é a orientação política mandatória para que qualquer país se desenvolva.
Em Portugal, muito se tem feito nesta matéria. A verdade é que os setores que se têm ligado às universidades portuguesas de referência, encontram-se atualmente a beneficiar, com evidente sucesso, dessa cooperação.
No entanto, há ainda uma enorme margem para evoluir significativamente nessa relação positiva com a Ciência e com as universidades.
Segurança do conhecimento adquirido ou produzido
Sublinho agora um aspeto que reputo de extraordinariamente sensível, considerando que uma parte significativa dos empresários com quem tenho contatado e com os quais abordo estas questões, não revelam grandes preocupações com a segurança da informação crítica que circula nas suas empresas. Informação essa que na maioria dos casos é conhecimento inerente à inovação desenvolvida “in door”.
Como se sabe, e é hoje do senso comum, conhecimento é capital. Logo, a fuga de conhecimento corresponde na prática à fuga de capital.
A questão pode parecer simples, mas na realidade é, por vezes, bem complexa e dotada de uma gravidade extrema, ao ponto de fazer perigar toda a estratégia de uma empresa, para a competitividade.
O problema da segurança da informação crítica versus conhecimento chega a atingir proporções difíceis de controlar, sobretudo quando não se acautelou atempadamente de a suportar em bases consistentes e acessíveis à liderança de topo, deixando que permanecesse apenas na mente de um ou vários colaboradores. E quando não se tomaram estas cautelas, o risco da perda do capital de conhecimento está diretamente ligado ao grau de dependência dos recursos humanos, que uma organização tem, se esse capital só estiver depositado na mente de pessoas, que a qualquer momento, podem deixar de colaborar com ela.
A inteligência competitiva propõe hoje, um conjunto de constructos conceptuais e ferramentas práticas que permitem às empresas, dotar-se de um sistema que as proteja, quer das ameaças externas, como daquelas que podem circular no seu interior.
Quantas patentes, em todo o Mundo, não puderam ser registadas pelos seus legítimos autores, porque houve fuga de conhecimento, levando à antecipação do seu registo por parte dos usurpadores?
É claro que existem tribunais e que o recurso à via judicial é sempre uma possibilidade. Mas os danos entretanto causados, podem não se compadecer com o custo e os “timings” da Justiça. Principalmente se o processo tiver de correr em Portugal.
Creio que concordarão comigo, que o melhor é mesmo prevenir e cuidar de guardar bem a “alma” de todo o negócio, ou seja, os seus segredos…
Edição 2015
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